Para falar de direitos e protagonismo das mulheres precisamos falar de mercado de trabalho. Só com a representatividade das mulheres na liderança em diferentes setores da sociedade poderemos alcançar a tão sonhada equidade de gênero.
Já falamos disso no artigo sobre a importância da representatividade feminina e os desafios para alcançá-la. Buscar a representatividade feminina alimenta sua autoestima e permite que se elas se enxerguem em diferentes espaços e se vejam como agentes de mudanças.
A centralidade do trabalho na nossa sociedade
O trabalho ocupa desde a Revolução Industrial um espaço central na nossa sociedade. Quando perguntamos a uma criança: “o que você vai ser quando crescer?”, queremos ouvir a resposta sobre com o que ela deseja trabalhar. Entendemos que somos nossa profissão. E para muitas pessoas, escolher com o que trabalhar não é uma opção. Há uma série de “restrições invisíveis” que impedem que as pessoas façam escolhas conscientes pelo simples fato de serem mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+, etc.
Felizmente os movimentos da sociedade civil têm trazido essa pauta para a discussão e iniciativas em prol da diversidade têm sido ampliadas. Os rankings de empresas, por exemplo, trazem reflexões sobre essas estruturas e permite que iniciativas tenham lugar para garantir a tão sonhada representatividade.
O que dizem os rankings para as mulheres
O ranking das melhores empresas para as mulheres trabalharem foi recém-lançado pela Great Place do Work. A edição de 2021 traz resultados importantes para reflexão:
- As mulheres representam em média 52% dos funcionários, o mesmo percentual registrado na edição de 2020. A representatividade é de 44% na liderança geral e 26% na alta liderança – no ano passado, os percentuais eram de 41% e 32%, respectivamente.
- Apenas 13% das empresas têm mulheres no cargo de CEO, e elas ocupam 28% das posições em conselhos de administração.
- A representatividade de mulheres negras é baixíssima: elas ocupam 5% dos cargos de liderança.
- As mulheres que ocupam cargos na alta liderança ganham, em média, 15,8% a menos do que os homens. A diferença é de 18,8% em outros níveis de liderança e 1% em outros cargos.
Como a participação das mulheres no mercado de trabalho chegou ao menor nível em 30 anos, não surpreende que o percentual de mulheres na alta liderança tenha caído. Mas para além desses dados, é importante entender um pouco mais a fundo o que faz com que a representatividade e os salários sejam baixos.
A ponta do iceberg
A discussão de representatividade-remuneração-permanência das mulheres e da inclusão no mercado de trabalho passa por olhar as questões estruturais da sociedade. Passa também por rever a forma com que nos organizamos como sociedade. Enquanto normalizarmos uma pessoa trabalhar 12 horas por dia e normalizarmos que as tarefas de cuidados cabem às mulheres, a conta não fecha.
Por isso, é essencial implementar ações e políticas que escutem de fato as mulheres e avaliem indicadores como turnover entre as funcionárias que retornam da licença-maternidade, além da ascensão e permanência de diferentes perfis de mulheres. Precisamos repensar estereótipos de gênero, rever nossos conceitos sobre masculinidades e revisitar o tempo dedicado ao trabalho remunerado.
Como estratégia, é essencial ouvir as mulheres e dar encaminhamentos práticos. São elas que podem dizer o que faz diferença para que trabalhem melhor e mais felizes. Na pandemia, medidas como prolongar os horários de almoço, redução de necessidade de materiais para reuniões e períodos livres de reuniões tem sido ótimas referências.
Políticas públicas são essenciais para mudar esse cenário, mas ele só se concretizará com mudanças culturais. E nisso, as empresas têm um papel fundamental.