Uma das pautas que vem ganhando força quando se fala da desigualdade de homens e mulheres é a necessidade do envolvimento dos homens tanto no debate quanto nas ações para redução dessa desigualdade.
Considerando que os homens são parte ativa e também afetada pelos problemas relacionados às violências e desigualdades de gênero, as soluções precisam considerá-los e tê-los como atores.
Mas acontece que muitas vezes vira um embate “elas contra eles” ou vice-versa. E perde-se a oportunidade do diálogo. Diversos estudos têm mostrado que a desigualdade de gênero limita também as liberdades dos homens. Eles estão em posição de poder e privilégio, definitivamente sofrem menos que as mulheres em termos absolutos, mas também são afetados pelo machismo.
Os homens que entendem a necessidade da sua participação nesta pauta são aliados. E o setor de impacto, que busca promover a transformação social, é terreno fértil para que os homens sintam-se à vontade para serem aliados da causa.
Se perceber como parte do problema e da solução
Um estudo realizado pelo Instituto Avon e Locomotiva sobre o papel do homem na desconstrução do machismo, levantou dados sobre a percepção dos homens sobre essa questão.
Os resultados não são muito animadores e podem até parecer contraditórios. 88% dos homens acredita que existe desigualdade entre homens e mulheres na sociedade, mas apenas 24% se consideram machistas.
Ao responder sobre atitudes que são mais relevantes para evitar o preconceito e a violência contra a mulher, o cenário é parecido. A resposta mais votada, com 37% de respondentes, considera que o mais importante a fazer é
“oferecer aos filhos uma educação na qual se ensine a respeitar as mulheres”. Em segundo lugar, com 17% das respostas aparece “não ter atitudes preconceituosas ou machistas”.
Ou seja, a maioria dos homens, mesmo concordando que existe desigualdade de gênero, não consideram que eles mesmos deveriam mudar suas atitudes ou quebrar velhos paradigmas da desigualdade.
Uma dica para entender mais sobre as dificuldades para quebrar esses paradigmas é assistir o documentário O silêncio dos homens, produzido pelo Papo de Homem.
Os homens no setor de impacto socioambiental
No setor de impacto socioambiental, temos um desafio particular que é trabalhar com a contradição de atuar em um setor que busca a redução de desigualdades e que por vezes as reproduz, mesmo que inconscientemente.
No setor de impacto, muitas vezes a temática de gênero só é abordada em projetos específicos sobre a causa e por mulheres. Para os homens, parece ser uma bandeira que não lhes cabe levantar.
Além disso, poucos se sentem confortáveis em combater atitudes machistas, mesmo que as percebam. A necessidade de provar que são homens de “verdade” ou a falta de identificação com um modelo geram tensões e restringem a maneira como homens constroem sua identidade e interagem socialmente.
A realidade é que o machismo faz parte das estruturas em que vivemos, está em nós e no nosso cotidiano. Não agir é aceitar.
Aliados da causa
A pesquisa citada no começo deste artigo fala de 10 mecanismos para envolver os homens no processo de transformação: educação escolar, propagação de outras narrativas de gênero na mídia, advocacy em políticas públicas, grupos reflexivos para autores de agressão, espaços de acolhimento para discutir a masculinidade, educação pelos pares, ações educativas independentes, ativismo compassivo, comunicação não violenta e didática na discussão do tema e respaldo de lideranças organizacionais para a mudança.
No caso do setor de impacto, adiciono: realizar ações para visibilização de colegas mulheres pelos trabalhos realizados, incluir abordagens de gênero na promoção de eventos socioambientais, garantir representatividade igualitária de mulheres e homens em eventos e espaços de decisão, mesmo que isso implique em sair um pouco dos holofotes.
* Este texto foi originalmente publicado no Portal do Impacto, por meio da nossa parceria com a Phomenta. Publicamos também os textos O acesso é diferente para homens e mulheres?, Terceiro Setor: por que as mulheres são maioria? e Como evitar estruturas machistas no terceiro setor?